terça-feira, 25 de maio de 2010

Swear That You Don't Have To Go

E naquela noite gelada do segundo dia da primavera, como poderíamos imaginar! Imaginar que, sentados nas pedras do jardim do meu inglês com todos nossos amigos dividindo uma garrafa de cachaça com coca-cola, daquela conversa tão sem pé nem cabeça, viria um abraço que começou a mexer com tudo. E daquele abraço tão simples, tão aparentemente insignificante e comum, viria um beijo. Aquele beijo. Nosso beijo. E todo mundo, talvez, pensou que iria ser só mais um beijo, assim como os outros pra mim. Que você viria a ser só mais um, sem importância e relevância, como todos os que tentavam passar por essa muralha que havia construído ao longo do tempo, de base tão sólida e incontestável. Quisera eu, do fundo do meu (não) coração, que realmente fosse assim! Que não tivesse significado absolutamente nada pra mim, que fosse igual a todos os outros, que me fizesse imparcial sobre você, que passasse simplesmente em vão. Mas sempre foi difícil acontecer o que eu queria. Dessa vez não foi diferente. Voltei pra casa com um sorriso que ninguém via há muito tempo. Não que alguém o tivesse visto, aquela madrugada, pois quando cheguei em casa fui recebida com um latido acanhado e uma lambidinha na mão do meu vira-lata.
Uns dias depois, seu aniversário. Não sabia como seria, não o via desde aquela noite. Confesso que realmente havia muita curiosidade em mim sobre nós dois, por você ser sempre tão imprevisível, e eu ter sempre medo de me envolver com o incerto, com aquilo que sei que não posso controlar. Daquela vez, minha insegurança não me impediu, ainda bem, de retribuir seu beijo no meio da avenida, enquanto íamos comprar morangos e chocolate pro nosso fondue. Não sei o que exatamente naquele dia me fez prestar mais atenção em você, e começar a sentir um certo nervoso na sua presença. Ver que você era realmente, e literalmente, diferente de tudo aquilo que já tinha visto, de todos aqueles que já tinha conhecido. No fim das contas, acho que foi minha curiosidade, e, convenhamos um pouco de coragem também, responsável por eu me aproximar de você. E, aos poucos, me apaixonar por você. Ate gostar de você.
Estava tudo tão bem, pra quatro meses juntos. Quer dizer, nenhuma briga, nenhuma cobrança. A gente se entendia de um jeito só nosso, tão nosso, que acostumamo-nos a olhares desaprovadores e comentários dos demais, sem ligar muito pra isso. Afinal, o que importava era a gente, pra mim. E, só hoje eu sei, pra você também.
Errada eu, por não ter tentado te entender melhor. Por simplesmente achar o que eu queria achar sobre certas atitudes vindas de você, sem nunca falar nada, sempre deixando um sentimento de repreensão se acumular num canto dentro de mim e ficar ali, sozinho, sem ser tocado por ninguém além de mim. E continuar com você, mesmo assim, sem dizer uma palavra se quer, fingindo que aqui dentro de mim estava tudo bem. Fingindo que não doía, acreditando cegamente que iria passar, esperançosa de que tudo mudaria sem a gente mudar. Só que todo mundo sabe que dói, que não passa, e principalmente, que não muda sem mudar. E talvez esse tenha sido o meu maior erro: acreditar que sem mudar nada, tudo mudaria por si só, e ficaria simplesmente bem outra vez.
Acho que tudo isso foi ficando tão pesado dentro de mim, e de você, que foi se tornando impossível de suportar. Por mais que quiséssemos, por mais que tentássemos, por mais que fingíssemos que podíamos, foi inevitável a corda arrebentar pro lado mais fraco. Eu explodi por dentro, e achei melhor por nós dois, botar um fim em tudo isso, antes que o tempo desse conta de fazê-lo. Achei que seria a melhor solução, e ate hoje, não sei explicar se acertei.
De vez em quando, me arrependo profundamente de ter deixado você simplesmente sair da minha vida, mesmo com motivos suficientemente convincentes pro meu ego. Alguém que fez parte dela não por tanto tempo quanto outras n pessoas, mas tão intensamente como poucas conseguiram. Sem me pedir pra mudar, depois de se afastar, você me mudou. E durante todo o tempo que ficou do meu lado paciente e voluntariamente, te agradeço incontáveis e infinitas vezes por isso, me fez crescer. Crescer tanto, que talvez seja um pouco responsável por tudo isso, também. Mas já não importa, porque o que está feito, está feito. E não pense que te culpo por tudo isso, muito pelo contrário. Sei muito bem que, no fim das contas, ninguém tem culpa.
Só te peço pra parar de ficar tão longe, porque sinto sua falta. Sinto falta do seu cheiro, e ate das suas piadas sem graça. De te fazer companhia na cozinha enquanto você fingia que sabia cozinhar, e queimava todos os nossos nugguets pra jantar no sábado assistindo a ultima temporada de House. Sinto falta ate dos meus amigos reclamando e questionando todos os dias o que é que me fazia gostar de você, e de mim respondendo que eu simplesmente não sabia, e que era isso que me fazia gostar cada dia mais de tudo em você.
Sei que não te amo mais, e aceito isso, conformada. Não sei por que, mas não amo. Simplesmente gosto, apesar de tudo. E não vou deixar de gostar nunca, porque o diferente a gente nunca esquece. Você conseguiu marcar minha vida de um jeito único, que ninguém nunca vai conseguir. Isso por você ser de um jeito que ninguém nunca vai entender, nunca vai chegar perto de ser: absolutamente você.