domingo, 29 de maio de 2011

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Essa é (só) uma daquelas madrugadas que deixam as pessoas revirando papéis no fundo do armário dentro d'uma caixa de sapatos por puro tédio - lê-se saudades do que não foi, mas que já se foi. Ou cadernos abandonados no escaninho do quarto dos fundos, aquele que a gente só lembra ora porque tem que pegar os sapatos todos os dias pela manhã, ora porque derrubou o resto de molho de tomate no chão limpo e aí precisa pegar o monte de trapos que um dia foram suas camisetas favoritas pra tentar limpar a porcaria que virou. Pior não é ficar ali, ajoelhado no chão gelado tirando todo aquele vermelho do assoalho. É levar tudo pro tanque, deixar na água quente, tirar de lá, passar sabão como se não houvesse amanhã e esfregar. Até o pano ficar como estava antes. Limpo, sem absolutamente nada além daquele monte de rasgos (me pergunto de vez em quando porque picas pessoas compram panos de chão.).
Imagina só, deixar tudo cair, quebrando vidros, sujando pisos, espalhando e arrastando toda essa bagunça por tempo indeterminado, daí simplesmente quando lhe for plausível pegar uns trapos velhos - mais um punhado de força de vontade, convenhamos - e usar ali. E de repente é como se nada nunca tivesse caído. Como se nada jamais tivesse sido estragado, quebrado. Estaria tudo novo e limpo, mais uma vez, pronto pra deixar a gente emporcalhar e destruir o-que-quer-que-seja de novo. E de novo, e eterna(não-tanto)mente.
Que é que tem isso com mar de retalhos-escritos dentro de um papelão? Talvez sejam os panos.