sábado, 5 de junho de 2010

Olho para o rancho quando a noite cai. É a primeira noite de lua cheia e, para mim, as lembranças virão. Sempre vêm. Prendo a respiração quando a lua começa sua lenta ascensão sobre as montanhas, o brilho leitoso contornando o horizonte. As ávores se tornam prata líquida, e embora eu deseje mergulhar nas memórias agridoces, viro-me para observar o rancho novamente.
Durante muito tempo, espero em vão. A Lua continua sua trajetória pelo céu. Uma a uma, as luzes da casa se apagam. Concentro-me ansiosamente na porta da frente, esperando pelo impossível. Sei que ela não vai aparecer, mas não consigo me forçar a ir embora. Inspiro lentamente, na esperança de chamá-la pra fora. E quando finalmente a vejo sair de casa, sinto um formigamento estranho na minha coluna, algo que nunca tinha experimentado antes. Ela para na escada, e então se vira parecendo olhar na minha direção. Congelo sem motivo, sei que é impossível ela me ver. De onde estou, observo Savannah fechar a porta silenciosamente atrás de si. Ela desce lentamente os degraus e vaga pelo jardim. (...)
Ela para e depois cruza os braços, olhando para trás, para se certificar de que ninguém a seguiu. Finalmente, parece relaxar. Então, sinto como se estivesse presenciando um milagre, como, bem devagar, ela ergue o rosto para a lua. Eu a vejo sorver a imagem da lua cheia, inundada pelas memórias libertas, não desejando nada além de fazê-la saber que estou aqui. No entanto, fico onde estou e também olho para a lua. Por um breve instante, é como se estivéssemos juntos de novo.

- Dear John, pag. 275